A ida de três clérigos norte-americanos à embaixada norte-americana em Teerão recebeu um grande destaque mediático. Aliás, a tomada de reféns obteve uma cobertura dos meios de comunicação social bastante extensiva, abrindo telejornais e fazendo manchetes. Existiam também várias críticas à administração de Jimmy Carter, (Presidente que cumpriu 100 anos em outubro), acusada de ser demasiado tíbia na resposta à tomada de reféns.
Sobre esta visita, como escreveu o Washington Post há 45 anos, foi vista com bons olhos pelo Departamento de Estado: “Tudo isto foi montado pelo iranianos e nós estamos contentes em cooperar”. A diplomacia norte-americana entendia que este gesto seria bastante útil para perceber que reféns estavam efetivamente na embaixada (apenas existia uma estimativa na altura) e se tinham sido maltratados. Por sua vez, o regime iraniano apresentava esta iniciativa como uma “grande concessão”.
[Já saiu o primeiro episódio de “A Caça ao Estripador de Lisboa”, o novo podcast Plus do Observador que conta a conturbada investigação ao assassino em série que há 30 anos aterrorizou o país e desafiou a PJ. Uma história de pistas falsas, escutas surpreendentes e armadilhas perigosas. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube.]
Porém, a “concessão” iraniana não era uma simples prova do humanismo do regime dos ayatollahs. Era uma manobra de propaganda num país que, após a revolução, ficara quase isolado na comunidade internacional. Tal como frisou William Howard Jr., o convite para passar a noite de Natal na embaixada partiu do Irão, responsável por organizar o evento. Neste sentido, não é de admirar que os clérigos tenham sido escolhidos a dedo. Como conta o jornalista Mark Bowden no livro Guests of the Ayatollah, o conselho revolucionário escolheu-os pela sua “história contra o imperialismo”.
Momentos depois de William Howard Jr. ter recebido o telegrama com uma mensagem simples — “venham e ofereçam as vossas preces aos reféns” —, o reverendo entendeu que a notícia já estava a circular nos meios de comunicação social, que acompanhavam fervorosamente o assunto. Houve também várias demonstrações de solidariedade: um desses exemplos é o laço amarelo, que se tornou um símbolo deste momento histórico e que estava espalhado por ruas, casas e edifícios.